POLÍTICO ANGOLANO, NORBERTO GARCIA, AMEAÇA ANDRÉ VENTURA E OS PORTUGUESES… Um político angolano de alto escalão emitiu uma severa advertência ao líder do partido português Chega, André Ventura, e defendeu o orgulho nacional de Angola contra críticas que considerou desrespeitosas. Norberto Garcia, figura proeminente no cenário político angolano, reagiu com veemência a comentários recentes de Ventura sobre Angola, classificando-os como inaceitáveis e prometendo uma resposta firme.

Um político angolano de alto escalão emitiu uma severa advertência ao líder do partido português Chega, André Ventura, e defendeu o orgulho nacional de Angola contra críticas que considerou desrespeitosas. Norberto Garcia, figura proeminente no cenário político angolano, reagiu com veemência a comentários recentes de Ventura sobre Angola, classificando-os como inaceitáveis e prometendo uma resposta firme.

Norberto Garcia em discurso sobre André Ventura

Num discurso inflamado, Garcia afirmou que não permitirá que ninguém fale do Presidente angolano ou do país “como se Angola fosse um país das bananas”. A sua declaração surge num contexto de tensão crescente nas relações luso-angolanas, alimentada por retórica política considerada ofensiva por Luanda. O político deixou claro que a soberania e o respeito são linhas vermelhas.

“Se batem no meu pai, eu vou discutir contra quem bateu no meu pai”, declarou Garcia, referindo-se metaforicamente ao “pai da pátria angolana”. A analogia ilustra o nível de indignação sentida por sectores do governo angolano após as críticas de Ventura, que incluíram acusações de corrupção. Garcia não nega a existência do problema, mas contrapõe com uma lição histórica.

O político provocou: “Quem trouxe a corrupção aqui em 1482 chama-se João”, numa referência direta ao passado colonial português. Esta narrativa histórica foi usada para rebater o que considera ser uma falta de conhecimento por parte de Ventura, acusando-o de não ser “um bom aluno de história”. A retórica marca uma escalada no tom das discussões bilaterais.

Garcia lembrou ainda o papel de Angola durante a crise financeira portuguesa, afirmando: “quem salvou, entre aspas, Portugal foi Angola”. Esta afirmação visa sublinhar a interdependência económica entre as duas nações e contestar a narrativa de superioridade moral. O político argumenta que muitos portugueses e empresas tiveram oportunidades de negócio em Angola.

Garcia defende Angola em meio a críticas

Sobre um possível confronto direto, o angolano foi categórico: “Não tenho nenhum problema de falar com o senhor André Ventura”. Revelou ainda que já recebeu “recados” de alguns deputados do Chega, mas manteve a posição de que Angola e as suas instituições devem ser respeitadas incondicionalmente. A disposição para o debate foi apresentada como um desafio.

Ameaçando com reciprocidade, Garcia alertou sobre as consequências de políticas anti-imigração: “Temos cá quase 300.000 portugueses”. A sugestão de que Angola poderia responder na mesma moeda caso cidadãos angolanos fossem expulsos de Portugal introduz um elemento de tensão prática nas relações, indo além da mera troca de palavras.

“Entrar para esta guerra é uma guerra desnecessária”, reconheceu, apelando à preservação da relação histórica e familiar entre os dois povos. No entanto, a sua mensagem contém um aviso claro: não se pode permitir que alguém “estrague esse ambiente”. O equilíbrio entre defesa nacional e preservação dos laços parece ser o centro da sua argumentação.

Garcia defendeu os progressos de Angola pós-independência com dados concretos: “Fez-se muito mais depois da independência”. Esta afirmação é apresentada como “indiscutível” e serve de base para o seu apelo ao orgulho nacional. O político insiste que o foco deve estar no desenvolvimento interno e na educação em valores.

Garcia fala sobre o desenvolvimento de Angola

O discurso transformou-se num apelo patriótico, incentivando os angolanos a investir no próprio país. “É melhor criar o meu negócio aqui em Angola”, questionou, argumentando contra a emigração. Citou o exemplo do Japão, onde as crianças aprendem princípios antes do conteúdo académico, como modelo a seguir para fortalecer a coesão social.

A crítica estendeu-se a alguns angolanos da diáspora que, segundo ele, “alimentam” narrativas negativas. No entanto, manteve um princípio de unidade: “roupa suja lava-se em casa”. Esta posição reflete a complexidade de gerar uma resposta nacional unificada a críticas externas, sem fracturar a comunidade angolana no estrangeiro.

A reação de Norberto Garcia simboliza uma mudança de tom na diplomacia angolana, adotando uma postura mais assertiva perante críticas que considera injustas ou desrespeitosas. A referência constante à história comum, com os seus conflitos e interdependências, serve como pano de fundo para esta nova firmeza.

Norberto Garcia em discurso de defesa do país

Analistas políticos sugerem que este incidente pode refletir um desgaste mais amplo nas relações entre Angola e Portugal, onde narrativas históricas são cada vez mais instrumentalizadas para debate político interno em ambos os países. A eleição europeia e o crescimento do Chega em Portugal introduzem variáveis novas nesta equação bilateral.

O governo português ainda não se pronunciou oficialmente sobre as declarações de Norberto Garcia. No entanto, fontes diplomáticas indicam preocupação com a escalada retórica, dada a profunda ligação humana e económica entre os dois países. A comunidade portuguesa em Angola segue atentamente estes desenvolvimentos.

Este episódio coloca à prova a resiliência da relação luso-angolana, construída sobre séculos de história partilhada, mas também marcada por períodos conturbados. A capacidade de ambos os lados para separar a retórica política eleitoral da gestão de Estado será crucial nas próximas semanas.

Enquanto isso, Norberto Garcia mantém a sua oferta de debate público com André Ventura, colocando a bola no campo do líder do Chega. A resposta ou não resposta de Ventura a este desafio será analisada como um indicador do peso que a relação com Angola tem na política portuguesa contemporânea.

O apelo final de Garcia é para que os angolanos concentrem energias no desenvolvimento nacional, formando “melhores escolas” e combatendo a desigualdade social. A sua mensagem mistura nacionalismo, pragmatismo económico e uma defesa intransigente da dignidade do país, definindo possivelmente um novo paradigma no discurso político angolano sobre as suas relações externas.